Dicas de Leitura: BATMAN & HUNTRESS, CRY FOR BLOOD.

DC Comics, 2002.

Encadernado Americano (TPB) contendo as edições #01 a #06 desta minissérie (originalmente publicada no ano de 2000).

Roteiro: Greg Rucka.

Desenhos: Rick Burchett.

 

“Você deseja vingança? Você deseja restaurar sua honra?”

“Faça você mesmo.”

Essas frases, presentes na capa traseira da edição encadernada, são a mais pura e definitiva definição desta história: um conto sobre ressentimentos, vingança... e família.

Helena Bertinelli, vulgo Caçadora, sempre teve uma vida atribulada. Filha de um poderoso “Capo” da máfia italiana em Gotham City, testemunhou sua família (pai, mãe e irmão) ser morta a mesa de jantar, levando-a a descobrir a verdadeira natureza dos negócios do clã Bertinelli. Despertando na jovem uma total aversão as atividades criminosas da família e um ferrenho desejo de justiça - nem que seja preciso matar. O que muitas vezes a colocou em rota de colisão com Batman.

Mas uma pergunta sempre esteve na mente de Helena:

- Por quê? Por que eu fui poupada? O assassino olhou nos meus olhos após matar meus pais e meu irmão, que era pouco mais velho, e não puxou o gatilho!

Quando vários mafiosos começam a aparecer mortos, não tarda até a Bat-família e a mídia desconfiarem de que a Caçadora esteja por trás de tudo, mesmo com as negações da heroína. Apenas um certo vigilante sem rosto acredita na palavra dela... Vic Sage, o Questão! Que reconhece na Caçadora a mesma pessoa inconsequente que ele fora um dia. Após resgatá-la de um afogamento, põe em prática seu plano de salvar Helena dela mesma.

“Você é homem sonhando ser uma borboleta, ou uma borboleta sonhando ser um homem?” Essa é uma pergunta frequente durante a história. E ao final dela, a personagem nunca mais será a mesma.

Isolada em uma cabana junto ao sensei de Sage, Richard Dragon (da antiga revista Kung Fu Fighter), nada resta a Caçadora além de destruir seu antigo eu e começar do zero. Transcendendo seu potencial latente antes de poder voltar a Gotham e encarar tanto o Batman quanto a pessoa responsável pelos assassinatos.

Sobram lições Zen na história, como quando Richard e Helena praticam tai chi e uma borboleta pousa na mão dele, enquanto diz sobre Helena ir mais devagar em sua violenta vida, pois nunca se permitiu um momento de contemplaçã. Tudo pontuado por visitas regulares do Questão. Começando a despertar algo mais entre os dois.

Pode-se dizer que Vic Sage deu a Helena a mesma lição aplicada a ele mesmo pelo Batman anos atrás quando, em semelhante situação, foi levado a presença de Richard para deixar de ser o “antigo Questão”. Ele inclusive dispunha dos mesmos problemas e impaciência da Caçadora. O que ajudou a estabelecer uma ligação entre os personagens - aproveitada na segunda temporada da série animada Liga da Justiça Sem Limites, no episódio “ Double Date”. Apenas trocaram o Batman pelo Arqueiro Verde e acrescentaram a Canário Negro.
Apesar de não ser uma adaptação oficial, ecos desta história podem ser vistos por todo o episódio.

Mas uma hora ela precisaria voltar a vida real e confrontar seus traumas, medos e reconquistar a confiança dos heróis de Gotham. Certamente a Caçadora que partiu não pode ser comparada com a que voltou dos mortos. Com ajuda do Questão, finalmente descobre o responsável pelos crimes e a morte de sua família... alguém mais perto do que ela imaginava.

É aqui que o roteirista Greg Rucka prova mais uma vez ser um mestre em surpreender o leitor. Quando finalmente surge a resposta para a pergunta do início: Por que eu fui poupada? E a resposta é um soco no queixo, de tão simples e impactante.
... Talvez não fosse essa a intenção do mandante do assassinato de sua família, anos atrás.

Uma história que, infelizmente, nunca foi lançada no Brasil. Mas vale a pena a procura em sebos, seja pelo encadernado ou as seis edições da minissérie original.

E ao final, você saberá a resposta para a “questão da borboleta”. 

Juliano Bittencourt