terça-feira, 19 de abril de 2016

Dicas de Leitura: WHAT IF #39.



Marvel Comics, 1983.
No Brasil: Grandes Heróis Marvel #05, 1984.

Roteiro: Alan Zelenetz.
Desenhos: Ron Wilson.

“Você está convidado a vir comigo até o passado desta outra terra, e ler, com seus próprios olhos, as páginas das Crônicas Nemédias”.

Assim começava outra história da antológica What If? Em suas 47 edições (de 1977 a 1984), a revista trouxe inúmeras versões alternativas para acontecimentos marcantes (ou triviais) do Universo Marvel. Geralmente culminando na morte do protagonista ou no fim de toda existência. Sempre apresentadas  pelo enigmático Vigia, que vislumbrava essas possibilidades.

Valendo-se de um artifício simples - Thor pegou um caminho diferente ao seguir Loki dentro de uma caverna, que na verdade era uma encruzilhada do tempo -, o roteirista Alan Zelenetz (autor da Graphic Novel A Bandeira do Corvo) fez o Deus do Trovão aparecer desmemoriado em plena Era Hiboriana, onde bandoleiros da Corinthia (um dos povos daquela era) estão preparando uma armadilha para Conan. Que provoca uma avalanche, matando a todos. Todos menos o filho de Odin. Tomando a investida de Conan como um ato vil e contra sua pessoa, Thor confronta o Bárbaro de Bronze, este confunde Thor com um Aesir (outro povo da época), devido à cor de seus cabelos. 

Mas então surge a pergunta: Como pode haver um confronto entre um deus e um mortal? Afinal mesmo sem saber quem é, um Deus do Trovão ainda é um Deus do Trovão. Aí entra a mensagem do início da história, reproduzida no começo desta resenha. Para não atrapalhar a cronologia oficial da Marvel, ou por pressão editorial (nunca saberemos), a história se situa em outra Terra do “Multiverso Marvel” (83600) em um passado no qual os deuses nórdicos ainda não existem. Sem Asgard, Odin, ou devotos, Thor ficou com seus poderes muito reduzidos, mas ainda assim consegue sobrepujar Conan, que passa a respeitá-lo e...  Os dois formam uma dupla de assaltantes de templos.

Mas claro, a dúvida sobre sua real identidade continua martelando a cabeça de Thor, até que Conan começa a falar sobre Crom, o sempre ausente deus dos cimérios. Impelido a procurá-lo em busca de respostas, Thor consegue escalar a montanha (Conan parou na metade) que serve de morada a Crom e o confronta perguntando sobre sua real origem.
Aqui entra outra boa sacada do roteiro: Crom reconhece Thor e revela que os asgardianos serão os deuses que sucederão os atuais. Tomado pela ira e pelo medo do que o espera no futuro, expulsa Thor de seu recinto, recusa ajudá-lo a voltar a sua época e joga seu martelo a quilômetros de distância... Sendo então encontrado pelos servos do feiticeiro Thoth-Amon (afinal, tinha de ter um inimigo para os dois se unirem e combater).

Durante a luta, Thor consegue invocar um relâmpago, mas estando fraco, morre junto a Thoth-Amon. Não sem antes fazer Conan prometer que irá entregar seu martelo a Crom, como prova de que nunca teve intenções de usurpar o trono do Senhor da Montanha ou de seus iguais, e como um símbolo do amor das divindades do futuro para com seus súditos.

“Seria mesmo você um deus, cabelos dourados”. Pergunta-se Conan. Mesmo sem acreditar, o bárbaro resolve cumprir a promessa, devido à amizade entre os dois. E a história termina com Conan subindo a montanha enquanto uma narração em off revela que a partir daquele momento os deuses começaram a ser mais benevolentes e piedosos... E o mais glorioso dos imortais será Odin, filho de Bor e neto de... Conan!

Um final incrível! Mesmo sendo uma história imaginada pelo Vigia. E ela lança perguntas como: O que houve depois que Conan subiu a montanha? Ele matou Crom? Crom transformou Conan em um deus? As possibilidades são muitas. Os leitores um pouco mais antigos lembrarão de que mesmo os asgardianos tinham seus próprios deuses. Odin os chamava de “aqueles que se sentam acima e nas sombras”. Existe aí a possibilidade de que sejam os deuses Hiborianos... Ou mesmo Conan esteja entre eles. Mas, esta história se situa em outra terra, e mesmo Conan não se encontra mais entre os personagens publicados pela Marvel (está na Dark Horse). O que geraria muitos problemas legais.

Só nos resta então imaginar. Para mim, Crom e Conan sempre serão parte daqueles que estão “Acima e Nas Sombras”.

Gostou deste final? Então aqui vai uma pegadinha: ele existe apenas na edição brasileira. Sério! Por mais legal que ele seja, foi uma "licença poética" dos editores brasileiros da época. No original a história acaba com o narrador falando que Conan se tornou "algo diferente, algo além".

Uma pena.


Juliano Bittencourt

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