sábado, 11 de julho de 2015

Dicas de Leitura: ANIMAL MAN #05 (O EVANGELHO DO COIOTE).


DC Comics, 1988.

Roteiro: Grant Morrison.
Desenhos: Chas Troug e Doug Hazlewood.


Melhor Edição, Melhor Série Mensal, Melhor Capa... foram tantos os prêmios que fica até difícil lembrar.
Certamente a quinta edição, da elogiada passagem de Grant Morrison pelo título do Homem Animal, merece todos os prêmios arrecadados desde sua publicação, vinte e sete anos atrás.

Morrison já desfrutava de certo prestígio no Reino Unido - 2000 AD e Zenith -, quando fez para DC Comics a Graphic Novel mais vendida até hoje, Asilo Arkham. Com carta branca para assumir qualquer personagem - a editora ainda reestruturava seu universo pós Crise -, o autor escolheu um personagem querido de sua infância, mas irrelevante no final da década de 1980: O Homem Animal.

O que a princípio deveria ser apenas uma minissérie, de no máximo cinco edições, tornou-se uma fase de vinte e seis. E neste quinto número, começam a aparecer algumas das excentricidades narrativas pelas quais o autor ficou famoso e o início do desenvolvimento dos coadjuvantes da revista, especialmente a esposa de Buddy Baker (Homem Animal), Ellen.

Ainda abalado pelos acontecimentos da edição anterior - experiências com animais - o personagem toma uma decisão: tornar sua família vegetariana (Morrison colocando sua filosofia de vida no papel). Discussões sobre o assunto ocorrem durante toda a série, sem ser panfletário ou piegas.

Após uma briga com a esposa, Buddy sai voando para um compromisso - ele é um dublê em Hollywood. Alertado por uma explosão no meio do deserto californiano, descobre Astuto, um coiote antropomórfico perseguido de forma implacável por um ex-caminhoneiro (não nominado), que culpa a criatura por todos os infortúnios e perdas familiares em sua vida, desde que o atropelou um ano atrás.

A exemplo “daquele outro coiote”, Astuto não morre. Apenas sofre a dor de todos os órgãos e ossos se recompondo a cada investida de seu perseguidor - com direito a todos os detalhes muito bem descritos e desenhados. Temos até uma queda de precipício com pedra gigante para completar. Após avistar o Homem Animal, Astuto vai ao seu encontro.

Ao entregar a Buddy o pergaminho que carrega no pescoço, descobrimos a história do mundo / dimensão do coiote. Sua desavença com o "Deus Desenhista", o porquê de seu exílio... E a exemplo de Prometeu e Jesus Cristo, o porquê de seu sofrimento em nome da salvação de todos.
Mas contrariando os leitores - que esperam sempre um final feliz -, o autor da sua costumeira cartada de gênio, quando o Homem Animal, ao terminar de examinar o pergaminho, exclama:

- "Desculpe, eu não sei ler isto aqui".

E você fica com cara de susto e começa a gritar: "Cara, tá tudo ali! Todas as respostas! Desgraçado! Como é que você não entendeu? Eu estava lendo junto!”
A bala de prata disparada pelo caminhoneiro, as portas da morte devido a mesma explosão, no coração de Astuto, põem fim ao seu sofrimento. Suas lágrimas indicam o pesar para com seu mundo / dimensão de origem.

Só resta ao Homem Animal lamentar, com ele nos braços. Enquanto nós ficamos com uma tomada, que vai se afastando cada vez mais, revelando a metáfora definitiva sobre o personagem.

No Brasil, essa história foi publicada duas vezes. A primeira em DC 2000 #07 (ed. Abril, 1990), e em Homem Animal #01 (ed. Brainstore, 2002), um encadernado em preto e branco com as sete primeiras edições.


Juliano Bittencourt

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